sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Oficina do Diabo

Já havia viajado por muitos lugares. Passou por lugares remotos onde a terra era áspera, onde o sol queimava suas costas. Passou também por lugares tranquilos, onde a água saciava sua sede e onde a brisa suave tocava sua pele. Mas agora não sabia onde estava, tudo era claro, tudo era escuro. Se perdera. Não sabia onde seguir, estava cansado. Decidiu ficar por ali para sentar, deitar e poder morrer. Até que seu caminho abriu-se novamente. Com dificuldades avistou uma árvore somente com seus galhos secos no alto de um morro de areia. Juntou o resto das forças que tinha e arrastou-se até ela. Estava bem próximo a árvore quando seu coração começou a bater mais forte, sentiu-se energizado. Como se a árvore transferisse calor para dentro do seu corpo. Levantou-se. E com uma voz oca a árvore perguntou o que estava fazendo ali, deitado na encosta do morro, quase entregue à morte. Simplesmente respondeu que estava ali pois estava cansado de esperar por ela, que somente por causa dela conseguira abrir os olhos e ver a árvore arrastando-se até ela. A árvore o retrucou dizendo que não teria feito nada por ele, estava ali por vontade própria e completou perguntando por que motivo estaria ali, tão longe de tudo. Respondeu que estava ali pois estava cansado de procurar por algo que não sabia onde encontrar, já havia viajado por muitos lugares onde nem sequer a árvore teria ido e estava exausto com tudo pelo qual passou, apesar de não ter encontrado nenhum palmo diante de si. Porém a árvore com rispidez negou o que o homem disse. Eu lhe conheço mais do que a ti mesmo. Lhe acompanhei por todos os momentos de sua longa jornada. Agora está aqui, na linde de sua consciência para julgar a ti mesmo. Quando a árvore disse isso, realmente sua vida passava diante de seus olhos. Como poderia um árvore em meio ao nada saber de toda sua existência? Simplesmente não sabia. A árvore contemplou o corpo do homem e disse que os caminhos que ele tinha tomado e o conhecimento que tinha adquirido tinha o trago ali. Que sua busca haveria de valer a pena.

Estava diante de si mesmo. Nesse momento seu corpo parou, sua mente estabilizou. Só conseguia olhar para a árvore e ver seu próprio rosto. Nunca soube por onde teria andado. Onde estava? Porque estaria ali? Suas dúvidas eram ainda maiores. Agora de olhos fechados, conseguiu ver de fora para dentro todo pandemonium ajustado e a sensação do interior profundo. Ali conheceu-te, e que toda sua vida que fora um livro vazio.

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